quinta-feira, 25 de outubro de 2012

100 ANOS DO CONTESTADO - Tema de vestibulares em Santa Catarina com certeza


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Como explicar que gente tão humilde, tão pobre, tão ignorante, tão primitiva, tenha enfrentado forças tão poderosas e durante quase quatro anos sua resistência e seu protesto? 

Osny Duarte Pereira (1966)

Mesmo silenciado pelo tempo e pela história oficial desta república, Osny Duarte Pereira, um brasileiro nascido no Contestado, não é um desses intelectuais apolíticos roídos pelos vermes do silêncio; ele nos traz, cinquenta anos depois, um olhar atual e estarrecedor da grandiosidade erguida pelos caboclos e caboclas nos sertões da amortalhada floresta de araucárias. 


A sua direita: Monge João Maria que aderiu ao conflito



Passados 100 anos do início da maior guerra civil camponesa brasileira, como entender os altos índices de miséria na região onde se teve o desenrolar dela? 

Tal assertiva se baseia – e é visível – nos dados públicos emitidos por órgãos federais e estaduais, que traçam “um retrato regional” e revelam que tanto a população urbana quanto a rural apresentam baixos índices de qualidade de vida, se comparada com outras regiões desenvolvidas de Santa Catarina e do Paraná. 

É notório que essa região já estava abaixo dos padrões de desenvolvimento regional na época da Guerra do Contestado, mas 100 anos depois, passando por todos os processos de desenvolvimento observados nos dois estados mencionados, ela não conseguiu acompanhar o padrão de riqueza das demais regiões. 

Este subdesenvolvimento teria origem no desenrolar da Guerra do Contestado ?  Esta também associado à concentração histórica da riqueza nas mãos de pequenos grupos e de famílias influentes, como os coronéis da terra do passado ou os empresários da indústria madeireira e ervateira das cidades que compõem essa região geográfica na atualidade? Quem são os miseráveis desta região: os que descendem do caboclo originário daquela terra ou os que descendem de grupos europeus que chegaram depois?
Mapa da área contestada


Por quê a população foi expulsa de suas terras?

Neste caso, o melhor exemplo é fornecido pelo vale do rio do Peixe, na década de 1910, quando a ferrovia que atravessava o vale colonizou as terras marginais aos trilhos, já ocupados por uma população luso-brasileira. A concessão de 15 km de cada lado da ferrovia, que se estendia por 372 km em território contestado, representou 6.696 km2 que foram desapropriados, um dos fatos mais marcantes da revolta popular cabocla – a expulsão das suas terras.

É correto afirmar que este conflito colaborou para a formação territorial do sul do Brasil?

A Guerra do Contestado se constitui como um dos momentos mais importantes da formação territorial do sul do Brasil, mesmo com forte diferenciação. Soma-se aos grandes movimentos revolucionários que marcaram a vida civil, política e militar, juntamente com a Guerra Civil (conhecida como Revolução Federalista), a República Catarinense (ou Juliana) e a Revolução Farroupilha, por exemplo.

100 anos depois como esta socioeconomicamente  esta região?

Em síntese, a região do Contestado se caracteriza como um enorme bolsão de miséria em Santa Catarina, o que não é diferente na parte que coube ao Paraná depois da “partilha” do território, no acordo de 1916, que “colocou fim” numa guerra genocida de uma população tida como pobre – a Guerra do Contestado. A guerra foi maldita, ceifou milhares de vidas camponesas por interesses do capital e dos coronéis da época, gerando, 100 anos depois do seu início, um território maldito, marcado pela maldição das políticas públicas ineficientes, corruptas e de interesses de pequenos grupos que dominam a região, em todas as escalas.

Artigo escrito pelo professor Nilson Cesar Fraga , Mestre em Geografia (UEM) e Doutor em Meio Ambiente (UFPR).



2 comentários:

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